Texfo: José Machicane
Foto: Ricardo Franco e Jay Garrido
Revista Índico
Com uma bola e conversa, formam-se futuros cidadãos e dignos. Este é o mote que leva Yassin Amuji a apostar no futebol de formação na vila de Vilankulo, província de Inhambane, sul de Moçambique.
Quando decidiu retirar a equipa sénior do Vilankulo FC da alta competição, em 2014, o “universo do futebol” temeu que Yassin Amuji, presidente da colectividade, estivesse a divorciar-se do “desporto-rei”. Mas o amor pela modalidade levou-o a virar as atenções para uma actividade mais nobre.
“Tirar os miúdos dos bares e dar-lhes uma oportunidade no futuro. Foi isso que me levou a apostar no futebol de formação, depois de o Vilankulo FC ter interrompido a equipa sénior”, afirma Yassin Amuji, em entrevista à Índico.
Para ocupar os 90 miúdos da vila, o Vilankulo FC criou, em 2012, as equipas de infantis, iniciados e juniores, compostas por 30 jogadores cada equipa e que competem em Inhambane. Os miúdos em formação têm entre os 6 e os 14 anos e em cada escalão ficam dois a três anos.
A aposta nos escalões de formação tem dado resultados positivos. A equipa júnior do Vilankulo FC já se sagrou vice-campeã por duas vezes. “Em 2017, ficámos em terceiro lugar nos juvenis e sentimos que o nosso trabalho está a ser valorizado. Os resultados têm sido positivos, mas é óbvio que ambicionamos mais”, diz Yassin Amuji.
No âmbito do seu projecto de formação, o Vilankulo FC também movimenta o torneio “Marlins do Futuro”, no qual participam anualmente cerca de 500 crianças dos bairros da vila. A acção também já deu os seus frutos, uma vez que, em 2014, uma das equipas que participou no torneio foi campeã nacional em juvenis.
O presidente do Vilankulo FC adiantou que para dar margem de progressão aos jogadores que saem das camadas de formação, o clube pensa em voltar a movimentar a equipa sénior em 2018, inscrevendo-se para competir no campeonato provincial. Realça, contudo, que não está obcecado em ver os jovens da formação a tornarem-se jogadores profissionais, porque o objectivo é assegurar o crescimento da personalidade humana, em todos os capítulos. “Há miúdos que saíram da formação e que agora trabalham em bancos. Quando me apanham na rua, agradecem-me o facto de lhes ter proporcionado a oportunidade de fugirem da marginalidade através do futebol”, assinala, com orgulho, o presidente do clube.
Sobre a cooperação entre a sua escola de jogadores e as academias de futebol mais evoluídas, principalmente na Europa, Yassin Amuji prefere não saltar etapas. “Não defendo que os miúdos saiam de Vilankulo directamente para um Benfica ou um Sporting, porque terão grandes dificuldades em singrar. O que me parece razoável é que consolidem a formação ao nível interno e só depois tentem outros vôos”, acrescentou Yassin Amuji, o homem que está a formar os Homens do amanhã.